Doenças e tratamentos
Envolver-se de forma ativa no seu tratamento é peça fundamental para o sucesso do mesmo. Por essa razão, a informação é essencial.
A Artrite Psoriásica (APS) é um tipo de reumatismo que causa inflamação tanto nas articulações (juntas) da coluna vertebral, quanto nas articulações periféricas (mãos, pés, joelhos, tornozelos, etc.). Ela é denominada de “psoriásica” porque está associada à presença de uma doença cutânea chamada de psoríase.
A psoríase é uma doença da pele relativamente comum, crônica e cíclica (apresenta sintomas que desaparecem e reaparecem periodicamente). Ela pode se apresentar de várias formas incluindo: manchas vermelhas com escamas secas esbranquiçadas ou prateadas, pele ressecada e rachada, às vezes, com sangramento, coceira, queimação e dor; unhas grossas, sulcadas, descoladas e com depressões puntiformes. A manifestação da psoríase geralmente surge antes da artrite e cerca de 20-40% dos pacientes com psoríase vão desenvolvê-la ao longo do tempo.
A causa da APS não é conhecida, mas acredita-se que há uma influência genética importante. Entre 30% e 40% dos pacientes de psoríase têm histórico familiar da doença. Além disso, entre 20 a 60% dos pacientes apresentam o marcador genético HLA-B27 (que é verificado em um exame laboratorial através da coleta de sangue). Porém, sabemos que a maioria das pessoas que tem HLA-B27 positivo não desenvolve a doença, de forma que existem muitos outros fatores ambientais causais. Dentre os fatores que sabidamente contribuem para o desenvolvimento da doença, podemos citar: estresse, obesidade, tempo frio, consumo de bebidas alcoólicas e o tabagismo (o cigarro não só aumenta as chances de desenvolver a doença, como também a gravidade da mesma quando se manifesta).
Quando a artrite se manifesta nas juntas periféricas (mãos, pés, joelhos, etc.) o indivíduo apresenta dor articular, muitas vezes com sinais inflamatórios locais (como inchaço, vermelhidão e aumento da temperatura). Eventualmente, quando a inflamação é muito grande, o dedo (das mãos ou dos pés) pode ficar bastante inchado, como se fosse uma salsicha, é o chamado “dedo salsichóide”. Essa manifestação é bastante característica da APS.
Já quando a artrite se manifesta nas juntas da coluna vertebral, o indivíduo apresenta dor nas costas. É muito comum a sensação de dor nas nádegas se espalhando pela parte de trás das coxas e parte inferior da coluna. Esse sintoma é reflexo da inflamação na parte final da coluna - sacroiliíte (que é a inflamação da articulação do sacro com a bacia). Diferentemente da lombalgia comum (que é um tipo de dor nas costas extremamente frequente na população em geral e geralmente associada a esforços), a dor da APS é contínua, costuma melhorar com exercícios e piorar com repouso. Essa dor que é tipicamente do tipo inflamatória, é via de regra pior no período da manhã e pode eventualmente acordar o indivíduo à noite. Acompanha-se frequentemente de uma rigidez, ou seja, uma sensação de enrijecimento que dura uma ou mais horas. Com o passar do tempo, sem o devido tratamento, ela ascende na coluna, envolvendo também a sua parte torácica e cervical.
Além das artrites, muito comumente, pode haver também dor na planta dos pés, principalmente ao se levantar da cama pela manhã. Esse tipo de dor acontece porque na APS podem ocorrer também entesites, ou seja, inflamação das enteses (que são locais de ligação do tendão ao osso). Todos os locais do corpo onde temos enteses podem ficar doloridos.
É muito importante que uma pessoa que tem psoríase seja avaliada por um reumatologista caso inicie com sintomas de dores no corpo. Para o diagnóstico é necessária a realização de exames laboratoriais e de imagem. No entanto, é importante ressaltar que caso o quadro clínico seja muito sugestivo, o diagnóstico pode ser definido mesmo quando os exames se apresentam normais.
O tratamento desta condição é realizado com foco na manifestação cutânea (psoríase) e articular. No que diz respeito ao tratamento das lesões da pele, nos casos leves, hidratar a pele, aplicar medicamentos tópicos e exposição diária ao sol, nos horários e tempo adequados e seguros, são suficientes para melhorar o quadro clínico e promover o desaparecimento dos sintomas. Nos casos moderados podem ser usados os tratamentos com exposição à luz ultravioleta A (PUVA) ou ultravioleta B (banda estreita) em uma câmara emissora da luz (fototerapia). Já, em casos mais graves, é necessário iniciar tratamentos com medicação imunossupressora via oral ou injetável (imunobiológicos).
Para as manifestações articulares, o tratamento baseia-se fundamentalmente na utilização de medicamentos imunossupressores. O tratamento medicamentoso evoluiu tremendamente a partir do início do século 21. Caso não haja resposta com os imunossupressores orais, podemos lançar mão de vários imunobiológicos disponíveis em nosso país. Ressaltamos que o que funciona bem para uma pessoa não necessariamente funcionará para outra, e, dessa forma, a orientação de qual medicamento utilizar, deve sempre vir de seu médico que realizará a prescrição de forma individualizada, de acordo com o seu perfil clínico. Exercícios e fisioterapia são também essenciais, especialmente se iniciados precocemente e realizados de modo constante, pois manterão a flexibilidade e a tonicidade muscular.
No momento, ainda não existe a cura para a APS, mas é muito importante frisar que se trata de uma doença crônica para a qual existe amplo tratamento. O diagnóstico precoce e o seguimento adequado permitem viver com uma pele sem ou quase sem lesões, ter alívio da dor, prevenir deformidades e ter uma vida absolutamente normal.
A Artrite Reumatoide (AR) é um tipo de doença autoimune relativamente frequente que acomete cerca de 1% da população, especialmente mulheres de trinta a quarenta anos de idade.
Nesse tipo de reumatismo ocorre artrite (dor e sinais inflamatórios como inchaço, vermelhidão e aumento da temperatura local) de várias articulações, principalmente as mãos, punhos, pés, joelhos, tornozelos e quadris.
Na maior parte dos casos os sintomas iniciam de uma forma insidiosa, com dor nas articulações, sem os sinais de inflamação, isto é, as juntas doem, porém, não é possível verificar aumento do volume, temperatura ou vermelhidão no local. Além disso, a dor da AR diferencia-se da dor associada à sobrecarga mecânica, da artrose ou do sobre uso, pois além de ser contínua, costuma melhorar com a mobilização e piorar com o repouso. Ademais, é frequentemente acompanhada de rigidez, principalmente no período da manhã, isto é, uma sensação de enrijecimento que pode durar uma hora ou mais. Com o passar do tempo, além da dor, aparecem os sinais inflamatórios e se não houver tratamento, com o passar dos anos, é possível haver evolução com deformidades e limitação dos movimentos articulares.
A causa desta doença ainda não é totalmente compreendida, porém, sabemos que há um forte componente genético associado a alguns fatores ambientais. Muitos desses fatores ainda nos são desconhecidos, porém, está bastante definido que infecções periodontais e tabagismo contribuem de forma significativa para o desenvolvimento da doença. Desta forma, recomenda-se especialmente nas pessoas que têm história familiar de artrite, manter sempre uma boa higiene dentária e não ter o hábito de fumar.
Para a realização do diagnóstico é fundamental a avaliação com um médico especialista em reumatologia. A definição diagnóstica ocorre como uma montagem de um quebra-cabeça, cujas peças derivam das informações clínicas (obtidas através da história e do exame físico), da avaliação laboratorial e dos exames de imagem. É importante ressaltar que nenhuma dessas peças de forma isolada determina ausência ou presença de doença, assim como não se monta um quebra-cabeça com uma única peça. Por exemplo: o exame de fator reumatoide é positivo em 75% dos pacientes. Isto quer dizer que em 75% dos casos o exame será positivo e em 25% será negativo, ou seja, ter fator reumatoide negativo não exclui a possibilidade da doença. Da mesma forma, o fato de ter este exame positivo não determina a presença de doença, se outros fatores ou “peças” também não estiverem presentes. Esse raciocínio se aplica a todos os exames incluindo aqueles que avaliam a inflamação, radiografias ou outros exames de imagem. É sempre necessária a avaliação de todo o conjunto para a correta definição.
O diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento são fundamentais para o controle da atividade da doença e para a prevenção da incapacidade funcional e da lesão articular definitiva (sequelar). Muitas vezes, o diagnóstico de uma doença crônica traz dificuldades no enfrentamento do problema e muitas dúvidas e angústias relacionadas ao tratamento. Mas é importantíssimo ressaltar que a precocidade do tratamento é fundamental para o sucesso do mesmo. É como se a doença fosse um carro que vai progressivamente aumentando a sua velocidade; e, no início, quando está mais devagar, é muito mais fácil de frear.
O tratamento medicamentoso baseia-se na utilização de remédios que vão tentar colocar o sistema imune “no lugar”. Normalmente se faz uso de corticosteróides com imunossupressores e finalmente, imunobiológicos. Anti-inflamatórios e analgésicos auxiliam no alívio da dor. Ressaltamos que a escolha do medicamento a ser utilizado é sempre realizada de forma individualizada e modificada conforme a resposta de cada indivíduo. Desta forma, é bastante comum iniciar com uma medicação e ao longo do tempo ter que trocar para outra e assim sucessivamente. Essas mudanças estão previstas e não devem trazer nenhum tipo de preocupação. Com a evolução do conhecimento, dispomos de um grande arsenal para o tratamento desta condição, e com o uso dessas ferramentas é possível ter uma vida absolutamente normal, sem dor ou deformidades.
Artrite Psoriásica: quando a psoríase e a artrite se encontram
Tenho Artrite Reumatoide: o que fazer?
O reumatologista é um especialista que trata de “reumatismo”. No entanto, o termo reumatismo é genérico, englobando vários tipos de doenças com tratamentos e prognósticos totalmente diferentes.
Uma das principais distinções que o reumatologista precisa fazer diante de um quadro de dor articular é entre a artrite ou a artrose. Embora esses termos sejam bastante semelhantes, a origem dos problemas e, consequentemente, os seus tratamentos são muito distintos. A confusão se torna ainda maior porque recentemente o nome da artrose foi modificado para osteoartrite.
Contudo, na realidade, não é tão complicado assim. No caso da artrose (ou osteoartrite), a origem do problema está na degeneração das estruturas articulares (que ocorre frequentemente, mas não exclusivamente com o envelhecimento). A articulação que está com alterações degenerativas pode apresentar dor no osso que fica “inchado”, inflamação dos tecidos intra-articulares, bursites, tendinites ou contraturas musculares. Normalmente esse tipo de dor ocorre ou piora com as atividades que “forçam” a junta e pode também haver alívio com o seu repouso. É muito comum ouvir um “barulhinho” quando se movimenta a articulação acometida, em função do menor espaço articular e, portanto, da maior proximidade dos ossos que estão ali articulados. A artrose é muito comum nos dedos das mãos, nas colunas (principalmente cervical e lombar), joelhos, quadris e pés.
No caso da artrite, a origem do problema pode ser mais complexa de avaliar, pois existem muitas situações clínicas que a podem causar. Dentro das artrites crônicas, ou seja, aquelas que tem mais de três meses de duração, a causa mais comum é a artrite reumatoide. A artrite reumatoide é uma doença autoimune que causa inflamação nas articulações, sem nenhuma degeneração local. Trata-se de uma inflamação primária das articulações. Neste caso, as articulações mais acometidas são a das mãos, punhos, cotovelos, joelhos, quadris, tornozelos e pés. A artrite reumatoide é uma doença mais sistêmica, que pode acarretar anemia e fadiga e, ainda, envolver outros órgãos do corpo, como os pulmões, coração, olhos, etc.
Enquanto na artrose (osteoartrite) o tratamento será voltado para analgesia, fortalecimento muscular, fisioterapia, perda de peso e eventualmente a utilização de nutricêuticos; na artrite reumatoide será necessário utilizar imunossupressores e eventualmente imunoterapia.
Desta forma, se você apresenta dor articular persistente, deve procurar um reumatologista para que uma avaliação completa possa ser feita, objetivando a distinção dessas situações e o diagnóstico correto. O tratamento precoce é extremamente importante na sua recuperação e terá grande impacto no prognóstico.
A Esclerose Sistêmica é uma doença autoimune rara, na qual ocorre o endurecimento da pele, que se torna espessa, lisa e sem elasticidade. Ela é quatro vezes mais frequente no sexo feminino que no sexo masculino e incide principalmente na quarta década de vida.
Existem basicamente duas formas de esclerodermia: uma forma localizada, na qual somente a pele é afetada (forma mais comum nas crianças); e outra forma sistêmica, em que, além do acometimento cutâneo, há também o comprometimento dos órgãos internos (forma mais comum nos adultos).
A Esclerodermia Localizada pode ser leve, com apenas uma pequena atrofia da pele (perda de tecido) ou manchas escurecidas na área afetada, mas em algumas ocasiões pode ser mais grave se estendendo mais profundamente aos tecidos subjacentes (tecido subcutâneo, músculos e ossos). Na maior parte das vezes são usados medicamentos tópicos e com o passar do tempo existe uma melhora espontânea. Nos casos em que há maior superfície cutânea envolvida, ou mesmo quando o endurecimento se estende aos planos mais profundos da pele, podem ser necessários medicamentos imunossupressores, e a fisioterapia se torna muito importante para preservar a mobilidade das articulações nos locais onde a pele está muito “presa” dificultando a movimentação.
No caso da Esclerose Sistêmica, a primeira manifestação clínica é usualmente o fenômeno de Raynaud, que ocorre em mais de 90% das pacientes. Esse fenômeno consiste em alterações da coloração da pele quando exposta ao frio ou em situações de estresse. A pele torna-se pálida e/ou azulada e em seguida avermelhada. Acontece preferencialmente nas mãos e nos pés, mas pode também afetar as orelhas, a língua e o nariz. O fenômeno de Raynaud pode anteceder os outros sintomas da doença por até cinco anos. Mas, é importante ressaltar que esse fenômeno é relativamente comum na população e menos de 10% das pessoas irão evoluir com a Esclerose Sistêmica. Para ajudar a entender se a ocorrência desse fenômeno está relacionada à doença reumática ou não, pode-se lançar mão de exames laboratoriais e do exame de capilaroscopia periungueal. Por meio desse exame, a circulação dos vasos muito pequenos (microcirculação) pode ser visualizada nos dedos das mãos através da utilização de um microscópio especial. Pessoas que possuem a esclerose sistêmica, na maioria das vezes, apresentam alterações muito típicas dos vasos sanguíneos, o que ajuda a definir o diagnóstico e possibilita o início do tratamento de uma forma muito precoce. Além do fenômeno de Raynaud e do enrijecimento cutâneo, indivíduos com Esclerose Sistêmica, desenvolvem também artrite e podem apresentar acometimento pulmonar, gastrointestinal e/ou cardíaco.
Até o presente momento, não há cura para a Esclerose Sistêmica, mas existem tratamentos disponíveis. Ademais, conforme colocado anteriormente, a doença tem vários espectros, várias “caras” e é, portanto, fundamental ter um especialista experiente que irá individualizar o tratamento para cada situação. Para evitar o Fenômeno de Raynaud, deve-se manter as extremidades aquecidas com luvas e meias e evitar lavar as mãos com água fria. Além disso, para casos mais graves com comprometimento funcional importante dos órgãos, há algumas novas possibilidades terapêuticas, principalmente, o transplante de medula óssea.
Artrite e Artrose: qual a diferença?
Esclerose Sistêmica: uma doença e várias possibilidades
A Espondilite Anquilosante (EA) é um tipo de reumatismo que causa inflamação principalmente nas articulações (juntas) da coluna vertebral. Ocorre em cerca de 1% da população e manifesta-se mais frequentemente no sexo masculino.
O primeiro sintoma dessa doença geralmente é de dor nas costas e costuma ocorrer antes dos 40 anos de idade. É muito comum a sensação de dor nas nádegas se espalhando pela parte de trás das coxas e parte inferior da coluna. Esse sintoma é reflexo da inflamação na parte final da coluna - sacroiliíte (que é a inflamação da articulação do sacro com a bacia).
Diferentemente da lombalgia comum (que é um tipo de dor nas costas extremamente frequente na população em geral e geralmente associada a esforços), a dor da EA é contínua, costuma melhorar com exercícios e piorar com repouso. Essa dor que é tipicamente do tipo inflamatória, é via de regra pior no período da manhã e pode eventualmente acordar o indivíduo à noite. Acompanha-se frequentemente de uma rigidez, ou seja, uma sensação de enrijecimento que dura uma ou mais horas. Com o passar do tempo, sem o devido tratamento, ela ascende na coluna, envolvendo também a sua parte torácica e cervical.
Muito comumente, pode haver também dor na planta dos pés, principalmente ao se levantar da cama pela manhã. Esse tipo de dor acontece porque na Espondilite Anquilosante é muito comum haver entesites, ou seja, inflamação das enteses (que são locais de ligação do tendão ao osso). Todos os locais do corpo onde temos enteses podem ficar doloridos. Artrite (dor com aumento de volume e/ou temperatura e/ou vermelhidão) de joelhos, tornozelos e inflamação dos olhos (uveíte) também são relativamente frequentes. Adicionalmente, algumas pessoas podem se sentir globalmente doentes, cansadas, podem perder o apetite e também o peso.
A causa da Espondilite Anquilosante não é conhecida, mas acredita-se que há uma influência genética importante. Cerca de 80% dos pacientes apresentam o marcador genético HLA-B27 (que é verificado em um exame laboratorial através da coleta de sangue). Porém, sabemos que a maioria das pessoas que tem HLA-B27 positivo não desenvolve a doença, de forma que existem muitos outros fatores ambientais causais que ainda não nos são conhecidos (muito possivelmente agentes infecciosos estão implicados).
Para o diagnóstico é necessária a realização de exames laboratoriais e de imagem. É importante ressaltar, porém, que o diagnóstico pode ser feito mesmo quando os exames de laboratório estão normais. O principal achado para a definição da doença é a inflamação na articulação sacroilíaca, através do exame de radiografia das sacroilíacas ou ressonância nuclear magnética (que sempre estará alterada, mesmo nos casos de sintomas recentes).
O tratamento desta condição envolve uso de medicamentos, fisioterapia e exercícios. O tratamento medicamentoso evoluiu tremendamente a partir do início do século 21. Inicia-se utilizando anti-inflamatórios não hormonais e caso não haja resposta, temos vários imunobiológicos disponíveis em nosso país. A orientação de qual medicamento utilizar, deve sempre vir de seu médico que realizará a prescrição de forma individualizada, de acordo com o seu perfil clínico. Exercícios e fisioterapia são essenciais, especialmente se iniciados precocemente e realizados de modo constante, pois manterão a flexibilidade e a tonicidade muscular.
No momento, ainda não existe a cura para a Espondilite Anquilosante, mas é muito importante frisar que se trata de uma doença crônica para a qual existe amplo tratamento. O diagnóstico precoce e o seguimento adequado permitem alívio da dor, prevenção de deformidades e a possibilidade de ter uma vida absolutamente normal.
Os imunobiológicos, imunossupressores e corticóides (todos medicamentos utilizados no tratamento das doenças autoimunes) aumentam o risco de se pegar infecções. Ademais, a própria doença autoimune por si só já pode elevar esse risco, devido a desregulação existente no sistema imunológico.
Desta forma, é muito importante saber tomar medidas preventivas, muitas vezes bastante simples, para evitar que isso aconteça.
Seguem algumas dicas do que você pode fazer para evitar o ataque de vírus, bactérias ou parasitas em situações em que há baixa defesa do organismo:
Lembrando que no caso de ocorrer suspeita de infecção durante o tratamento, o mesmo deve ser interrompido até que você receba melhores orientações do seu médico.
Tenho Espondilite Anquilosante. E agora?
Como evitar infecções usando imunobiológicos ou imunossupressores?
A imunoterapia é um tipo de tratamento que regula o sistema imunológico. Conceitualmente o nosso sistema imunológico foi concebido para defender o corpo contra invasores estranhos ou perigosos ao organismo, tais como: bactérias, vírus, fungos, parasitas, células cancerígenas ou órgãos e tecidos transplantados.
As moléculas produzidas pelo sistema imunológico ativado por uma infecção (que é a invasão dos tecidos corporais por microrganismos) migram para o local afetado gerando uma inflamação. O processo inflamatório é o resultado final das ações desse sistema em resposta à infecção. De uma forma geral, a inflamação é benéfica para o nosso corpo, porque trata-se da tentativa do organismo de conter a infecção objetivando que ela não se propague a outras partes, ou seja, é uma tentativa do organismo de restringir o acesso dos invasores a um determinado local.
Entretanto, distúrbios nas repostas do sistema imunológico podem gerar inflamações excessivas ou de longa duração (crônicas) que são prejudiciais aos órgãos. Então, o que acaba acontecendo é que a inflamação, ao invés de prejudicar somente o microrganismo invasor, se excede e começa e prejudicar também os próprios tecidos do indivíduo causando sua destruição.
A imunoterapia é o tipo de tratamento que reconhece a importância do sistema imune em diversas doenças e procura modulá-lo, ativando ou suprimindo um ou mais de seus componentes de forma a reduzir a inflamação excessiva e consequentemente os danos aos tecidos envolvidos. Ela pode ser usada atualmente para tratamento de vários tipos de “reumatismos” sistêmicos como a artrite reumatoide, a espondilite anquilosante, artrite psoriásica, lúpus eritematoso sistêmico, osteoporose, vasculites e várias outras. Mas também está sendo usada em várias outras condições menos sistêmicas (por diversas especialidades médicas) como na asma crônica, urticária crônica, dermatite atópica, hidradenite supurativa, psoríase, esclerose múltipla, doenças inflamatórias intestinais, uveítes posteriores, além de alguns tipos de câncer.
Hoje sabemos que a participação do sistema imunológico está presente com maior ou menor importância em basicamente todos os mecanismos patogênicos de todas as doenças humanas. Desta forma, podemos esperar que a utilização da imunoterapia deverá ser cada vez mais ampliada nas mais diversas áreas da medicina.
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença autoimune que pode acometer vários órgãos de forma simultânea. Ela ocorre de forma muito mais frequente no sexo feminino do que no masculino e geralmente se manifesta na idade dos 20 aos 50 anos.
A etiopatogenia do LES ainda é muito pouco compreendida. Sabemos que há uma alteração no sistema imunológico que o leva a produzir anticorpos contra as próprias células do corpo, prejudicando o seu funcionamento normal (daí a designação de doença autoimune). Sabemos ainda, que há um forte componente genético, porém, observamos que a maioria das pessoas que possuem esta predisposição genética não desenvolve a doença. Portanto, existem muitos outros fatores ambientais etiológicos que ainda não nos são conhecidos, mas acredita-se que fatores hormonais (relacionados ao estrogênio feminino), o tabagismo e agentes infecciosos tenham papel importante em seu desenvolvimento.
As manifestações clínicas variam bastante de um paciente para outro. Observamos desde casos simples que exigem intervenções médicas mínimas, até casos mais graves com danos a órgãos vitais como pulmão, coração, rins e cérebro. Manifestações na pele ocorrem em cerca de 80% dos casos, sendo a mais comum e típica a lesão em “asa de borboleta” (mancha avermelhada no dorso do nariz e bochechas cujo formato se assemelha ao inseto). Aftas na boca e manifestações articulares também são extremamente frequentes. No entanto, é bastante difícil descrever todos os possíveis sintomas, visto que a doença pode envolver, em diferentes graus, praticamente todos os órgãos do corpo.
Diante desse quadro de extrema heterogeneidade e variabilidade dos sintomas, é comum que o LES seja confundido com outras doenças sistêmicas e seu diagnóstico nem sempre será realizado de uma forma simples e rápida. Portanto, é fundamental a avaliação com um médico especialista em reumatologia, experiente na condução de casos de doenças autoimunes sistêmicas. A definição diagnóstica ocorre como uma montagem de um quebra-cabeça, cujas peças derivam das informações clínicas (obtidas através da história e do exame físico), da avaliação laboratorial e/ou dos exames de imagem. É importante ressaltar que nenhuma dessas peças de forma isolada determina ausência ou presença de doença, assim como não se monta um quebra-cabeça com uma única peça. Por exemplo, uma das principais peças utilizadas para este difícil quebra-cabeças é um exame laboratorial chamado de FAN (ou fator antinuclear). O exame de FAN dá positivo quando o indivíduo apresenta em seu sangue anticorpos contra proteínas que estão dentro do núcleo da célula (daí o nome fator antinuclear). O FAN é positivo em praticamente 100% dos pacientes. Porém, o inverso não é verdadeiro, isto é, o fato de uma pessoa ter este exame positivo não quer dizer que ela tem a doença (se outros fatores ou “peças” também não estiverem presentes). Esse raciocínio se aplica a todos os exames incluindo aqueles de sangue que avaliam a inflamação ou mesmo a exames de imagem. É sempre necessária a avaliação de todo o conjunto para a correta definição.
O diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento são fundamentais para o controle da atividade da doença. Muitas vezes, o diagnóstico de uma doença crônica traz dificuldades no enfrentamento do problema e muitas dúvidas e angústias relacionadas ao tratamento. Mas é importantíssimo ressaltar que a precocidade do tratamento é fundamental para o sucesso do mesmo. É como se a doença fosse um carro que vai progressivamente aumentando a sua velocidade; e, no início, quando está mais devagar, é muito mais fácil de frear.
O tratamento medicamentoso baseia-se na utilização de remédios que vão tentar colocar o sistema imune “no lugar”. A escolha do medicamento é avaliada individualmente para cada doente e de acordo com os órgãos acometidos e a gravidade dos sintomas. Além dos medicamentos, há uma série de medidas importantes com relação aos hábitos de vida que não podem ser ignoradas. A exposição solar deve sempre ser evitada com o uso de filtros de proteção e barreiras físicas como bonés, chapéus e roupas. Lembramos aqui que diante da falta de exposição solar, pode ser necessária a suplementação da vitamina D através de cápsulas, comprimidos ou gotas. A atividade física deve ser realizada com regularidade (exceto nas fases de doença em atividade franca, sobretudo, na presença de artrite). O exercício tem como objetivo a melhora da capacidade física, prevenção das complicações cardiovasculares, aumento de massa óssea para prevenção de osteoporose e melhora na qualidade de vida. O hábito de fumar, além de ser um fator de agravo para a doença, ainda pode atrapalhar no efeito dos medicamentos e, portanto, deve ser interrompido o quanto antes. Também é preciso ter cuidado com o uso de outras medicações (incluindo anticoncepcionais), que podem piorar o LES. É sempre mais seguro conversar com seu médico antes de se automedicar. Por fim, como já citamos anteriormente, o Lúpus é uma condição que acomete principalmente as mulheres em sua idade fértil. Sabemos que o fato de ter Lúpus pode trazer complicações para o bebê ou para a mãe. Porém, ressaltamos que a gravidez, na grande maioria das vezes, não é contraindicada. É muito importante, todavia, que a gravidez seja planejada para um período onde a doença esteja controlada e que medicamentos potencialmente perigosos para o bebê já tenham sido retirados em tempo hábil.
Imunoterapia: o que é isso?
Lúpus Eritematoso Sistêmico: entendendo as causas, o diagnóstico e o tratamento
A lombalgia comum, popularmente conhecida como “dor nas costas”, é a dor que ocorre na região lombar inferior, logo acima das nádegas. Trata-se de um problema extremamente comum, sendo a segunda causa mais frequente de consultas médicas gerais, só perdendo para o resfriado. Entre 65% e 80% da população mundial desenvolve dor na coluna em alguma etapa de sua vida.
Entender o mecanismo de funcionamento biomecânico da coluna vertebral é muito importante para a compreensão das causas da lombalgia comum. A coluna é o eixo central do corpo e dá sustentação tanto para os membros, tanto superiores (braços e antebraços através dos ombros), quanto inferiores (pernas e coxas através da articulação do quadril e da bacia).
Quando estamos parados, os músculos e tendões estão trabalhando dando tônus para a posição em pé. Durante qualquer movimento que envolva os braços ou pernas de qualquer lado do corpo, as estruturas da coluna começam a trabalhar para dar essa nova estabilidade ao tronco. Isso significa dizer, que a coluna está o tempo todo como um equilibrista numa corda bamba, adaptando-se aos deslocamentos com suas consequentes mudanças no centro gravitacional. Além disso, ela precisa continuar sendo rígida o suficiente para dar suporte à compressão exercida pela gravidade, mas também precisa manter sua mobilidade para que os movimentos aconteçam de forma organizada e fluida. Agora fica mais fácil entender como qualquer desequilíbrio, como um encurtamento, ou contratura muscular, ou alterações posturais significativas podem desequilibrar todo esse sistema gerando sobrecarga e dor.
A maioria das dores lombares é causada pelo "mau uso" ou "uso excessivo" das estruturas da coluna (resultando em entorses e distensões), esforços repetitivos, excesso de peso, pequenos traumas, condicionamento físico inadequado, erro postural, posição não ergonômica no trabalho e osteoartrose da coluna (desgaste e degeneração dos discos intervertebrais e articulações).
A dor relacionada à lombalgia comum tem caráter mecânico, isto é, frequentemente se nota um fator desencadeante, piora com a movimentação e melhora com o repouso. No entanto, fique atento! Nem toda dor nas costas é lombalgia comum, portanto é importante uma avaliação médica para descartar problemas em órgãos internos (como rins ou pâncreas) ou até outro tipo de acometimento na coluna mais sério como a presença de tumores, doenças inflamatórias ou infecções. Os principais sinais que devem subir o alerta são: dor que piora ao repouso e melhora com os movimentos, febre, perda de peso e dor noturna (quando a pessoa acorda na segunda metade da noite por causa da dor lombar).
O diagnóstico de lombalgia comum é essencialmente clínico. Exames de laboratório e de imagem podem ser necessários principalmente no sentido de se excluir outras causas de dor nas costas. É importante ressaltar que exames como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética são muito “sensíveis” e podem ser encontradas alterações que não estão relacionadas ao problema atual. Isto significa que pessoas sem qualquer sintoma podem apresentar as mesmas alterações estruturais na coluna que talvez nunca causarão dor ou outros sintomas. O contrário também é verdadeiro, isto é, o exame pode vir completamente normal, apesar de dor intensa (justamente porque, conforme explicamos, nem sempre a dor se dá por um problema estrutural). Somente um médico com experiência nesta avaliação poderá julgar se as alterações verificadas em um exame estão relacionadas com o seu caso em específico.
O objetivo inicial do tratamento é o alívio da dor. Podem ser usadas várias medicações incluindo analgésicos, anti-inflamatórios, miorrelaxantes, corticóides e opióides, sempre com avaliação do risco-benefício de cada uma delas. O repouso, embora recomendado na fase aguda, deve limitar-se a um curto período uma vez que seu prolongamento retarda a recuperação e favorece a cronificação do processo sobretudo por facilitar a perda de força muscular. Estudos recentes têm enfatizado a importância de eliminar rapidamente a dor para evitar evolução para uma cronificação. Na lombalgia crônica, há uma sensibilização do sistema nervoso central e a dor não ocorre mais por um problema localizado na coluna. Trata-se neste caso, de uma alteração de percepção da dor pelo cérebro. Diferentemente da lombalgia aguda, na lombalgia crônica são usadas medicações que têm ação na dor de origem neuropática, como antidepressivos, pregabalina, gabapentina, etc.
A reabilitação com exercícios de alongamento e fortalecimento muscular além da reeducação postural são fundamentais para reduzir os sintomas e prevenir o retorno das dores. Outras intervenções como TENS, acupuntura e infiltração poderão ser utilizadas. Na maioria dos casos há resolução espontânea. Mais de 50% dos pacientes melhoram após uma semana e 90% melhoram após 8 semanas. Procedimentos invasivos como cirurgias serão necessárias em apenas 1% a 2% dos casos.
O nosso sistema musculoesquelético (constituído por ossos, músculos, tendões, articulações) é o responsável por nos manter de pé e nos dar mobilidade. Os nossos músculos, através dos tendões, tracionam a movimentação dos ossos através de fendas (articulações). A integridade dos ossos é, portanto, fundamental para que todo esse sistema funcione adequadamente.
A osteoporose é uma doença em que os ossos se tornam frágeis, “poróticos” e tendem a se quebrar com um impacto menor do que o habitual. Por exemplo, é possível compreender que um osso possa não resistir ao impacto provocado pela energia liberada diante de um acidente de carro, ou da queda de uma escada. No entanto, espera-se que, de uma forma geral, ele possa resistir a uma queda da própria altura ou a um forte espirro ou tosse, pois na osteoporose é exatamente isso que acontece, o osso se torna tão “fraco” que pode se quebrar em situações inesperadas de baixo impacto.
Até poucos anos acreditava-se que o tecido ósseo era um tecido inerte, estacionado. Todavia, hoje sabemos que ele na realidade está o tempo todo se renovando. Ao longo da vida, desde o nascimento até a morte, algumas células ficam responsáveis por “cavar buracos” no osso, enquanto outras logo em seguida “cobrem” esses buracos com tecido “novo”, substituindo aquele que está “usado”. Ocorre que até cerca dos trinta anos de idade, o trabalho das células que estão “cobrindo os buracos” se sobrepõe ao das células que os estão “cavando”, isto é, até os 30 anos de idade temos como saldo, a formação óssea. É como se o tecido ósseo fosse uma parede de tijolos, em que se está colocando mais tijolos do que se está tirando. Ao final, a parede ficaria mais alta, certo? Porém, o pico da formação da massa óssea acontece até cerca dos 30 anos de idade. Após isso, o saldo começa a ficar negativo e a nossa massa óssea começa a cair. A velocidade dessa queda fica mais importante principalmente após a menopausa nas mulheres, pois o estrogênio é um hormônio muito importante em todo esse processo.
Vejam que a quantidade de osso que teremos na terceira idade dependerá em muito de quanto osso conseguimos adquirir até os trinta anos de idade. Parte dessa quantidade de osso que vamos atingir depende da nossa história familiar, isto é, da nossa programação genética. A outra parte depende de fatores ambientais, ou seja, fatores potencialmente modificáveis. Se conseguirmos incrementar ações positivas nesses fatores, teremos mais reserva para prosseguir com a perda natural que ocorre com a idade. E que ações seriam essas? Em primeiro lugar, ter uma dieta adequada em cálcio. Existe uma quantidade recomendada de cálcio para todas as faixas etárias. Verifique qual é a quantidade recomendada pra você e vá em frente. A quantidade de cálcio nos alimentos também está amplamente publicada. Com esses dados, não é difícil montar uma dieta na medida certa. É importante ressaltar que é extremamente difícil atingir as metas de cálcio sem usar leite e derivados (esses são os alimentos mais ricos em cálcio que existem). Em segundo lugar, ter uma boa produção de vitamina D. Os alimentos em geral são bastante deficientes nesta vitamina. O melhor jeito de produzi-la é através da exposição solar. Para a produção da vitamina D, deve-se realizar exposição solar por cerca de 10 a 20 minutos no mínimo 3 vezes por semana, com a maior parte do corpo possível exposta. É importante lembrar que a utilização de protetor solar, impede a produção da vitamina, de forma que o horário de exposição deve ser no início da manhã ou no fim da tarde (com a pele desprotegida), de forma a não aumentar o risco de câncer de pele ou ceratose solar. Quando não for possível, ou quando não for indicada a exposição solar indica-se a suplementação em comprimidos, cápsulas ou gotas. Em terceiro lugar, realizar atividade física regular. Os músculos ativados estimulam os ossos a serem renovados e essa renovação é extremamente benéfica para a formação de um osso com qualidade. Além desses fatores citados, temos alguns outros que podem prejudicar a formação do osso como o hábito de fumar e o uso excessivo de álcool ou café.
Reforçamos que a osteoporose não dói. É uma doença completamente silenciosa até que ocorra a fratura, portanto, se o indivíduo não fizer o exame, não terá como saber que tem a doença até que a fratura ocorra. Por esse motivo, o exame de densitometria óssea deve estar incluído nas rotinas de “check up”. Deve ser realizado em todas as mulheres acima de 65 anos e todos os homens acima de 75 anos. Mulheres que entram na menopausa e apresentam fatores de risco para osteoporose também devem ser submetidas ao exame. São considerados fatores de risco para osteoporose os seguintes: história familiar de osteoporose, baixo índice de massa corpórea, ser caucasiana ou asiática, tabagismo e etilismo. Em algumas situações especiais tais como o uso de determinados medicamentos (exemplos: corticoides, inibidores da aromatase, antiepilépticos), ou na vigência de algumas doenças ósseas ou sistêmicas (exemplo: doença celíaca, doença inflamatória intestinal, problemas na tireoide), também podem requerer a realização do exame para a adequada avaliação da massa óssea.
Felizmente existem atualmente muitos tratamentos eficazes para a osteoporose, que reduzem em até 70% o risco de fraturas. São vários medicamentos disponíveis com administração oral, subcutânea e até pela veia, com frequências de uso que variam de diário até anual. A escolha do medicamento deve ser individualizada para cada paciente de acordo com seu perfil clínico. Além do tratamento medicamentoso, e até mesmo para que o medicamento funcione, é muito importante ter um aporte suficiente de cálcio e níveis adequados de vitamina D. Enfatizamos ainda, sobre a importância da realização de atividade física e exercícios que melhorem o equilíbrio. Por fim, é preciso ter um cuidado especial para evitar as quedas, especialmente quando há fatores que aumentem esse risco como nos casos em que há deficiência visual ou uso de medicamentos para dormir. Seguem algumas dicas simples para evitá-las: usar sapatos seguros (firmes e não escorregadios), utilizar corrimão para subir rampas e escadas, utilizar barras de apoio especialmente em lugares escorregadios (banheiros), utilizar tapete antiderrapante em banheiros, retirar tapetes escorregadios, ter cuidado com animais de estimação e objetos baixos, manter boa iluminação, evitar carregar peso, subir em cadeiras ou escadas móveis.
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Osteoporose: a doença silenciosa do osso
A boa função do sistema musculoesquelético depende da integridade de seus componentes (ossos, músculos e tendões, articulações, bursas e ligamentos). Quando um desses componentes não funciona bem, isso se reflete em dor e dificuldade para realizar os movimentos.
A inflamação das estruturas que estão em volta das articulações (ligamentos, bursas, enteses e tendões) resultam em bursites, tendinites e entesites. Na maioria das vezes, a lesão dessas estruturas ocorre devido a traumatismo local. Esse traumatismo pode ocorrer como um acidente único e violento com lesão imediata, ou mais frequentemente pode ser o resultado de traumas crônicos associados com vícios posturais ou ocupacionais. Habitualmente são situações temporárias e não causam deformidade, mas podem eventualmente se tornar crônicas, especialmente quando não tratadas de forma adequada.
As bursas são pequenas bolsas com líquido dentro que têm como função proteger os músculos e tendões do contato com o osso e facilitar o deslizamento entre as estruturas. As bursites (inflamação das bursas) ocorrem geralmente de forma associada às tendinites (inflamação contígua) e podem ocorrer em diversos locais do corpo, sendo as mais comuns nos cotovelos, joelhos, ombros e quadris.
Os tendões são uma extensão dos músculos e sua função é de ligá-los aos ossos. À semelhança das bursites, as tendinites (inflamação nos tendões) também podem ocorrer em diversas localizações, sendo mais comuns nos dedos das mãos (especialmente do polegar), joelhos, ombros e nádegas.
As enteses são locais de inserção de um ligamento ou músculo no osso, e também podem sofrer inflamação (entesites). Os locais mais comuns das entesites são os cotovelos (comum nos tenistas e golfistas), joelhos e pés (conhecido popularmente como esporão de calcâneo e habitualmente associado à inflamação também da fáscia plantar – mais conhecida como a fasceíte plantar).
O diagnóstico de todas essas condições é baseado na história contada pelo paciente e exame clínico. Radiografias excluem anormalidades ósseas. Tendões, ligamentos e bursas não são visíveis em radiografias, no entanto, o uso da ultrassonografia e mais recentemente da ressonância nuclear magnética trouxeram grande auxílio na definição do local inflamado e no grau de inflamação da lesão.
O tratamento é baseado em repouso (de curto prazo), medicação anti-inflamatória e fisioterapia (para analgesia, alongamento e fortalecimento da musculatura da região afetada). Eventualmente, a critério do médico, a infiltração com corticóide pode ser bastante útil. A intervenção cirúrgica é infrequente e geralmente só é indicada para os casos crônicos em que já se observa disfunção em virtude de alterações sequelares, como por exemplo rupturas.
As doenças autoimunes são um conjunto de doenças que têm entre si uma causa em comum, que é a geração de uma resposta imunológica contra proteínas próprias, ou seja, é quando o sistema imunológico, por engano, ataca os componentes do nosso corpo.
Essas doenças podem envolver somente um órgão, como é o caso do diabetes mellitus tipo 1 (em que o pâncreas é atacado), ou da tireoidite de Hashimoto (em que a tireoide fica comprometida), ou do vitiligo e da psoríase (condições em que há acometimento da pele); ou podem também ser sistêmicas, envolvendo vários órgãos de uma só vez. Os reumatologistas são os médicos que acompanham as doenças autoimunes sistêmicas, popularmente conhecidas como “reumatismo no sangue”.
Um dos maiores desafios da medicina atualmente é de entender quais são as causas para o desenvolvimento dessas doenças como Lúpus Eritematosos Sistêmico, Artrite Reumatóide, Esclerose Sistêmica, Espondilite Anquilosante, Artrite Psoriásica, Polimiosites, Síndrome de Sjogren, etc. Sabemos que fatores genéticos são importantes, mas não são definidores, pois muitas pessoas possuem a característica genética, mas por algum motivo não desenvolvem a doença.
São muitos os fatores ambientais que estão em estudo. Devido a essa falta de conhecimento da medicina técnica, nos deparamos com uma situação de dúvidas e incertezas. Esse ambiente se torna altamente propício para atuação de profissionais que prometem curas milagrosas e propõem ações preventivas sem nenhum tipo de evidência em estudos científicos.
Com intuito de “separar o joio do trigo” listamos neste artigo algumas medidas que efetivamente têm comprovação em reduzir o risco de ter uma doença autoimune e/ou eventualmente reduzir o risco de atividade da mesma.
A manutenção da vitamina D em níveis adequados já demonstrou ser importante em inúmeras condições, especialmente na Esclerose Múltipla, Lúpus e Artrite Reumatoide. Para a produção da vitamina D, deve-se realizar exposição solar por cerca de 10 a 20 minutos no mínimo 3 vezes por semana, com a maior parte do corpo possível exposta. É importante lembrar que a utilização de protetor solar, impede a produção da vitamina, de forma que o horário de exposição deve ser no início da manhã ou no fim da tarde (com a pele desprotegida), de forma a não aumentar o risco de câncer de pele ou ceratose solar. Quando não for possível, ou quando não for indicada a exposição solar (como por exemplo no Lúpus Eritematoso Sistêmico) indica-se a suplementação em comprimidos, cápsulas ou gotas, visto que os alimentos costumam ser pobres nesta vitamina.
Outro fator definitivamente associado ao desenvolvimento de doenças autoimunes é o uso do tabaco. Os mecanismos envolvidos nesta associação são complexos e não totalmente conhecidos, mas é sabido que o tabagismo aumenta o risco de doenças autoimunes, diminui a resposta a alguns tratamentos e ainda piora o prognóstico naquelas pessoas que já tem um diagnóstico bem definido.
Com relação ao peso corporal, as evidências são de que também possa estar relacionado ao desenvolvimento de doenças autoimunes. Durante muito tempo acreditou-se que o tecido adiposo era apenas um órgão inerte que só servia para armazenar gordura. Ao longo das últimas décadas, porém, descobriu-se que esse tecido funciona como um órgão dinâmico metabolicamente, que produz uma série de substâncias (as adipocinas) que tem papel importante na indução e manutenção da inflamação. Portanto, a obesidade deve ser evitada como uma forma de diminuir o risco dessas doenças autoimunes.
Um outro fator frequentemente ignorado, mas que tem se mostrado extremamente importante no desenvolvimento da autoimunidade é a periodontite. Acredita-se que bactérias encontradas na doença gengival possam interferir no processo de citrulinação de proteínas (um processo que altera a conformação e, portanto, a função das proteínas) que está intimamente ligado a produção dos autoanticorpos na Artrite Reumatoide. Além disso, existem estudos mostrando que a falta de higiene oral está, em verdade, relacionada ao aumento da mortalidade geral da população, independentemente de sua relação com as doenças autoimunes. Recomenda-se, portanto, sempre manter uma boa higiene dentária e visitas regulares ao dentista.
Por fim, mas não menos importante, ressaltamos a respeito do papel da saúde mental dentro desse universo. Há clara interrelação entre os distúrbios do humor com o surgimento de doenças reumáticas ou sua ativação quando a mesma já é pré-existente.
Em resumo, por mais que desejássemos oferecer uma receita simples e fácil para prevenir ou atenuar as doenças reumáticas, ela infelizmente não existe. O segredo está em tomar as rédeas de sua vida e simplesmente fazer a sua parte. Na prática, é seguir os conselhos do sendo comum e trabalhar para o seu próprio bem estar: alimentar-se bem, fazer exercícios físicos diariamente (de preferência ao ar livre), não fumar, respeitar as horas de sono e experimentar estratégias para evitar a depressão e o estresse.
Tendinites, entesites e bursites: o que são e por que ocorrem?
É possível prevenir as Doenças Autoimunes?
A felicidade é uma emoção básica caracterizada por sentimentos de bem-estar e prazer. Ela é o objetivo fundamental de qualquer indivíduo. Valores contemporâneos de grande parte do mundo ocidental apontam para a crença de que seremos mais felizes se formos mais ricos, nos vestirmos na moda, consumirmos determinados produtos e tivermos determinada aparência física. No entanto, inúmeros estudos científicos demonstram que esse estilo de vida é ineficaz nessa busca.
Estudos têm demonstrado que os índices de felicidade costumam ser relativamente estáveis ao longo do tempo na vida de cada indivíduo, dependendo menos de eventos externos do que se imagina. Mesmo acontecimentos dramáticos ou extremamente felizes – como uma lesão na coluna causando tetraplegia, ou ganhar um prêmio de loteria – não influenciam tanto nos níveis de felicidade quando avaliados em longo prazo. O que ocorre, é que as pessoas inicialmente reagem intensamente a eventos bons ou ruins, porém tendem a adaptar-se rapidamente, voltando para um nível de felicidade relativamente estável e semelhante ao anterior. Isso parece ocorrer porque não é o que acontece de verdade com o indivíduo que o deixa feliz ou infeliz, mas sim, a maneira como ele interpreta e lida com esses fatos. Percebe-se assim, que a felicidade é um fenômeno predominantemente subjetivo, estando mais associada a aspectos de cunho psíquico, do que a acontecimentos externos específicos.
Em diversos momento da nossa existência, nos deparamos com situações alheias a nossa vontade que nos trazem dor, medo, tristeza, angústia e ansiedade. Receber um diagnóstico de uma doença crônica é uma dessas situações. Dentro da reumatologia, especificamente, até há poucos anos, havia um grande sofrimento devido às questões físicas (como: dor, deformidades, prejuízo na mobilidade) provocadas pelas doenças reumáticas. Todavia, recentemente, houve um aumento considerável no arsenal terapêutico e, com isso, pudemos presenciar uma mudança na realidade do paciente reumático, que passou a viver uma vida praticamente igual a de pessoas que não tem essas doenças. Apesar dessa grande evolução no tratamento, da melhora da dor e da melhor perspectiva funcional, na prática, não observamos uma evolução concomitante quanto ao sentimento de felicidade.
Os principais fatores pessoais de proteção às adversidades são: ter ou desenvolver a qualidade de resiliência, exercitar a gratidão e outras emoções positivas, reforçar algumas características específicas da personalidade (como a autoestima, flexibilidade, otimismo), desenvolver atenção plena (“mindfulness”) e ter um bom relacionamento familiar.
A resiliência é uma característica da saúde mental. É a capacidade de superar as dificuldades, saindo fortalecido das adversidades. Sabe aquela história de que “o que não nos mata nos fortalece”? A resiliência é uma experiência que está ligada ao amadurecimento e ao desenvolvimento, ou seja, todo indivíduo tem uma predisposição à resiliência, mas ela pode também ser desenvolvida a partir das vivências ao longo da vida.
Espiritualidade e religiosidade são consideradas importantes estratégias para o desenvolvimento da resiliência. Enquanto a religiosidade pressupõe um sistema organizado de crenças e de rituais, a espiritualidade consiste numa busca pelo significado da vida e pelo estabelecimento de uma relação com algo superior, sem necessariamente passar pelo desenvolvimento de práticas religiosas ou da participação numa comunidade Acredita-se que os efeitos positivos de ambas ocorram porque, em primeiro lugar, a espiritualidade provê sentido e propósito para as vidas das pessoas. Esse sentido, transcende uma série de questionamentos existenciais que comumente levam à angústia e à infelicidade. Em segundo lugar, acredita-se que a própria congregação de fiéis crie uma rede de apoio e os ajude a sentir-se menos solitários.
Um outro aspecto que está muito relacionado com índices mais elevados de felicidade e maior capacidade em lidar com situações adversas é o sentimento da gratidão. Expressões sinceras e frequentes de gratidão produzem efeitos altamente positivos para os indivíduos devido à capacidade na geração de uma corrente de emoções positivas. Considera-se que essas emoções positivas são tanto causa, quanto conseqüência da felicidade.
Com relação à personalidade, um dos traços que mais medeia a interpretação da realidade pelo indivíduo é o otimismo. Uma percepção otimista da realidade tem a capacidade de modificar por completo a tomada de decisões e a atitude de um indivíduo. Por exemplo, um paciente otimista tem maior probabilidade de aderir a hábitos que promovam sua saúde, é mais motivado e investe no seu tratamento. Além disso, sabe-se que uma atitude otimista costuma estimular a rede de suporte social, trazendo mais amparo para enfrentar as adversidades.
E, finalmente, o exercício de “mindfulness” ou atenção plena também pode ser uma ferramenta poderosa de enfrentamento. A atenção plena é um estado mental que se caracteriza pela capacidade do indivíduo de autoregular a sua atenção consciente para o tempo presente. Isso seria o oposto do funcionamento em “piloto automático”. Você já experienciou ir até à cozinha e no caminho se esquecer do que iria fazer?”. Funcionar no “piloto automático” pode ser muito útil na realização de várias tarefas. Esse modo de funcionamento nos permite, por exemplo, que amarremos um cadarço enquanto conversamos com alguém, sem nenhuma dificuldade. Seria difícil ter que pensar em cada passo na realização de tarefas simples e cotidianas como calçar um sapato ou lavar a louça. No entanto, para muitas outras tarefas, não é conveniente estar no “piloto automático”, sob risco de estarmos sempre com nossa atenção voltada ao passado, ou ao futuro, ou em objetivos específicos em detrimento da percepção do momento presente. Quantas vezes você estava conversando com alguém, mas não ouviu nada que ela disse? O presente torna-se ainda mais importante, à medida em que percebemos o quanto os eventos da vida são transitórios, e, mais ainda quando percebemos as vantagens de guiar a sua conduta através de valores, e não baseada nos resultados finais. Por exemplo, se eu faço uma dieta com o objetivo específico de emagrecer e não obtenho sucesso, todo meu “sacrifício” foi em vão, mas, ao contrário, se faço uma dieta para obter saúde (pelo simples fato de ser a coisa certa a ser feita) e não emagreço, de um jeito ou de outro, saio ganhando. Se vivemos a vida no presente, simplesmente por viver, fazer por gostar, pelo aqui e agora, sem foco no futuro ou em qualquer tipo de efeito relativo às nossas ações, podemos experimentar um alívio e uma extraordinária libertação.
O termo reumatismo, não trata de uma só doença em particular, mas engloba um grande número delas. Na realidade, o termo faz referência à presença de queixas relacionadas ao sistema musculoesquelético. É muito comum perceber pessoas que se queixam de dores musculares, ósseas e articulares dos mais variados tipos, porém, distinguir entre as diversas causas desses sintomas não é sempre uma tarefa fácil. Adicionalmente, além de causar dor, quadros mais graves podem estar associados, com prejuízo do sistema respiratório, gastrointestinal, cutâneo, neurológico ou cardiológico.
Apesar de ocorrer em idosos com bastante frequência, o reumatismo pode ocorrer em qualquer idade, ou gênero. Por esse motivo, todos devem ficar atentos, principalmente se há fatores de risco como: história familiar, obesidade, tabagismo, sedentarismo ou depressão.
As doenças reumáticas inseridas dentro desse termo consagrado popularmente incluem: a osteoartrite, artrite reumatoide, espondilite anquilosante, artrite psoriásica, lúpus eritematoso, síndrome de Sjogren, esclerose sistêmica, fibromialgia, gota, etc. É fundamental diferenciar entre essas diversas causas visto que o tratamento pode variar bastante entre uma etiologia e outra.
Portanto, ao se perceber dor nas articulações, principalmente se acompanhada de vermelhidão, ‘inchaço’, calor ou dificuldade para movimentar, a pessoa deve procurar o reumatologista para um diagnóstico adequado. Uma dica importante é verificar a frequência dos sintomas. De uma forma geral, dores ocasionais e não persistentes não são preocupantes. No entanto, dores mais persistentes, que pioram ao ficar parado e melhoram com os exercícios, devem levar o paciente a procurar ajuda de forma mais rápida. Se a doença é rapidamente reconhecida, com o tratamento apropriado, ele pode levar uma vida normal, sem dor, sem deformidades ou qualquer tipo de incapacidade.
A felicidade e o reumatismo: como ser feliz diante das adversidades
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A Síndrome Antifosfolípide ou Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAAF) é uma doença autoimune em que há produção de anticorpos contra proteínas do próprio organismo (chamados de anticorpos antifosfolipídes) levando à alteração no funcionamento normal da coagulação do sangue. Essa alteração ocasiona trombose (isto é, coagulação anormal do sangue dentro dos vasos sanguíneos). A trombose dentro do vaso, seja ele uma artéria ou uma veia, funciona como uma obstrução ao fluxo de sangue e impede ou dificulta a sua circulação pelos diversos sistema do organismo podendo desencadear isquemia de órgãos.
As manifestações clínicas da trombose podem ocorrer em qualquer parte do organismo, a depender de qual vaso está comprometido. No caso das veias, a trombose mais comum acontece nas pernas. O indivíduo geralmente sente dor, inchaço e vermelhidão na perna afetada. No caso de trombose das artérias, a manifestação mais comum é de derrame cerebral (AVC: acidente vascular cerebral) ou infarto agudo do miocárdio. Outro tipo de manifestação bem específica ocorre durante a gestação. Abortos repetitivos, pressão alta e prematuridade do bebê podem acontecer em virtude da SAAF.
É importante ressaltar, porém, que todas as manifestações citadas podem ocorrer também em situações não relacionadas com a SAAF. De uma forma geral, pacientes jovens e sem fatores de risco para trombose (como tabagismo, obesidade, imobilidade prolongada, uso de estrógenos, história familiar de trombose, etc.) ou mulheres com mais de um aborto sequencial sem causa evidente; devem ser avaliados para a possibilidade da existência da síndrome.
Pacientes suspeitos devem passar por uma avaliação laboratorial para verificar a presença dos autoanticorpos específicos. É importante frisar que a SAAF é uma das principais causas de trombofilia adquirida, ou seja, tromboses em que uma causa genética não é identificada.
O tratamento desta doença é feito com inibidores da ativação plaquetária e/ou com anticoagulantes. O objetivo do tratamento é “afinar o sangue” e evitar novos episódios de tromboses (recorrências). O controle do uso do anticoagulante é feito através de um exame laboratorial chamado INR. Geralmente tenta-se manter o INR entre 2.0-3.0, mas variações individuais podem ser necessárias. O controle do uso desta medicação com o INR é muito importante, pois níveis abaixo de 2.0 podem não estar protegendo os pacientes de novos episódios de trombose. De forma oposta, níveis de INR maiores que 3.0 podem propiciar sangramentos. É preciso estar atento a isso, já que muitos medicamentos e até mesmo a alimentação podem aumentar ou diminuir o INR, mesmo que o paciente esteja tomando a dosagem adequada do remédio. Durante a gravidez, um anticoagulante diferente é utilizado (subcutâneo), em virtude da teratogenicidade dos anticoagulantes orais. Apesar do maior risco de perdas gestacionais observada na SAAF, o tratamento adequado eleva a taxa de sucesso para 75% a 85%, tornando totalmente viável a tentativa das mulheres que desejam engravidar.
A Síndrome de Sjögren (SS) é uma doença autoimune que se caracteriza clinicamente pelos sintomas de secura ocular e na boca, associadas à presença de autoanticorpos (detectados através de exames laboratoriais) e/ou sinais de inflamação glandular. Ela é mais comum em mulheres de meia idade, mas também pode ocorrer em homens e em qualquer idade, inclusive crianças.
Nesta doença, algumas células brancas (chamadas de linfócitos) invadem órgãos e glândulas, principalmente as glândulas lacrimais e salivares, produzindo um processo inflamatório que acaba por prejudicá-las, impedindo suas funções normais.
Se uma pessoa apresenta olho seco ou boca seca, ela deverá ser avaliada para as possíveis causas desses sintomas. Medicamentos (inclusive os usados para o tratamento da pressão alta, depressão, resfriados e alergias), infecções e outros problemas oculares também podem ocasionar secura. Os pacientes com Síndrome de Sjogren podem apresentar ainda: secura em outros locais (como na pele, nariz e vagina), fadiga, artralgias (dores nas juntas), artrites e, menos frequentemente, ter outros órgãos do corpo acometidos, como os rins, pulmões, vasos, fígado, pâncreas, nervos e cérebro.
Para a confirmação do diagnóstico, além de todos os sintomas já mencionados, o paciente deverá apresentar alterações laboratoriais (exames de sangue), anatomopatológicas (biópsia das glândulas salivares menores, realizada no lábio) e/ou de imagem (ultrassonografia ou cintilografia das glândulas salivares).
Ainda não existe uma cura definitiva, mas o diagnóstico e intervenções precoces podem melhorar em muito o prognóstico. O tipo do tratamento vai depender dos sintomas e da sua gravidade. No caso do paciente que apresenta somente secura nos olhos e boca, eventualmente, poderão ser utilizadas apenas lágrimas artificiais e substitutos de saliva. Alguns procedimentos oftalmológicos também poderão servir de auxílio sintomático. Remédios anti-inflamatórios, corticóides e/ou imunoterapia poderão ser utilizados quando houver manifestações mais graves, objetivando melhora da inflamação e evitando sequelas.
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Descrever a evolução do tratamento de qualquer doença implica em conhecer os processos pelos quais ela passou até que fosse efetivamente identificada como uma entidade autônoma. Apesar de terem sido descobertas lesões reumáticas no esqueleto de homens pré-históricos de 2 milhões de anos atrás, a história científica da reumatologia inicia-se somente com Hipócrates (460-380 AC), sendo que o termo "reumatismo" surgiu com Dioscórides (40-90 AC).
Atualmente, esse termo faz referência às inúmeras doenças que cursam principalmente com dor relacionada ao sistema musculoesquelético. Ele engloba mais de cem tipos diferentes de doenças, com causas, sintomas, tratamentos e prognósticos bem distintos.
Com relação ao tratamento, partimos da Idade Média com a utilização de sangrias e purgantes, passando pelos anti-inflamatórios não esteroidais (salicilatos, 1884), esteroidais (cortisona, 1950), imunossupressores (ouro injetável, 1950) e imunomoduladores até chegar aos tratamentos atuais mais modernos, mais rápidos e eficazes.
De fato, a ampliação no entendimento do comportamento e da forma de desenvolvimento dos diversos tipos de doenças reumáticas desencadeou a personalização de cada tratamento, possibilitando o desenvolvimento de terapias mais focadas na origem do problema. Desta forma, avança-se nos objetivos do tratamento que passam agora a vislumbrar a resolução da doença no seu "âmago", em sua raiz, e não somente no alívio das dores.
Os principais tratamentos disponíveis atualmente são os imunobiológicos. Essas moléculas não são produzidas de forma sintética. São moléculas muito especiais produzidas por células vivas, com toda a complexidade inerente aos processos biológicos. O tratamento com imunobiológicos (pode ser feito por via subcutânea ou dentro da veia) revolucionou a reumatologia enquanto especialidade médica e, fez muito mais: revolucionou o tratamento e a vida dos pacientes que sofriam com doenças reumáticas. Pacientes podem agora vislumbrar não somente uma vida sem dor, mas sim, vislumbrar uma vida social, familiar e laborativa exatamente como a de um indivíduo saudável. Esse tratamento visa não somente eliminar a dor, mas "desligar" a doença e prevenir deformidades.
Já temos imunobiológicos disponíveis para artrite reumatoide, lúpus, vasculites, espondiloartrites, espondilite anquilosante, artrite psoriásica, osteoporose, artrite idiopática juvenil, dentre outras. Ainda, podem ser utilizados em várias condições associadas ou não a sintomas reumáticos como: psoríase, enxaqueca, asma, dermatite atópica, urticária crônica, uveítes, hidradenite supurativa, doenças inflamatórias intestinais, esclerose múltipla, etc.
As pesquisas não param e a cada dia surgem novos alvos terapêuticos e desenvolvimento de novas drogas. A imunoterapia, com a utilização principalmente de anticorpos monoclonais e receptores solúveis, tem se tornado uma modalidade de tratamento que rompe a barreira das doenças que tem a autoimunidade como causa, possibilitando controle de outras vias não imunológicas implicadas nas mais diversas condições.
Ademais, as moléculas já existentes e aprovadas para determinadas doenças estão sendo testadas em inúmeras outras para as quais ainda não se tem tratamento adequado. Pode-se dizer que embora tenha havido uma grande revolução terapêutica dentro da Reumatologia nos últimos anos, certamente o futuro é ainda mais promissor para os doentes reumáticos.
As infecções são uma das principais causas de morbidade e mortalidade nos pacientes portadores de doenças autoimunes. Isto ocorre tanto pelo desequilíbrio do sistema imune ocasionado pela doença em si, quanto pelos medicamentos que são utilizados em seu tratamento.
A vacinação consiste numa das medidas de maior impacto da redução do risco de doenças infecciosas. Recomenda-se nestes casos, portanto, manter a carteira vacinal sempre atualizada.
Todavia, é preciso ter cuidado, visto que alguns tipos de vacinas devem ser evitados após iniciado tratamento com determinados medicamentos.
De uma forma geral, são bastante seguras:
Já nos casos em que as vacinas são de organismos vivos atenuados, ou seja, de microrganismos vivos, porém não patogênicos (exemplos: febre amarela, poliomielite oral, rubéola, sarampo, caxumba, catapora e tuberculose) pode haver risco de desenvolvimento da doença e a decisão de tomar ou não a vacina deve ser discutida com o seu médico.
Na dúvida, pergunte antes de tomar!
Tratamento da Doença Reumática: dos primórdios ao futuro
Utilizo medicamentos imunossupressores/ imunobiológicos: posso tomar vacinas?
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